Catarina de Médici e a herança da culinária tradicional

 

Na linha do tempo que conta a história da gastronomia há um capítulo especial dedicado à nobre italiana Catarina de Médici (1519-1589). Pouquíssimas foram as figuras femininas que se tornaram célebres no universo da gastronomia, tradicionalmente dominado por homens. Catarina de Médici foi uma das exceções. Nascida em Florença, em 1519, ela viveu num cenário de transformações tanto nas artes e na ciência. Os hábitos levados à mesa também não passaram desapercebidos.

Do século XIV ao século XVI, os banquetes medievais são deixados de lado. A Itália havia se transformado em um sinônimo de refinamento na cozinha.
Num mundo onde apenas duques, condes e outros nobres poderiam desfrutar, mudanças como o uso do garfo, as peças esculpidas em metais nobres, os aparelhos de jantar, as toalhas bordadas e as porcelanas tornaram o comportamento à mesa um grau de sofisticação. Catarina frequentava esse meio.

A refeição do Renascimento italiano tinha, entre outras coisas, hortaliças e uma mesa lateral em que se expunham e serviam pratos frios. Havia preferência pelas carnes brancas, como vitela e caça, indicadoras de status.

De Florença a Paris

O casamento de Catarina de Médici, em 1553, com o futuro rei francês Henrique II também marcou o início da tradicionalíssima culinária francesa. Sua mudança para Paris, demandou um séquito de serviçais, amas e, claro, cozinheiros e confeiteiros. Pratarias, porcelanas, louças e ainda alcachofras, trufas e cogumelos acompanhavam a bagagem da florentina, mas principalmente a noção de refinamento à mesa.

O novo comportamento causou estranheza no início, mas aos poucos passou a ser imitado pelas cortes francesas. O fascínio dos franceses pela herança clássica certamente se tornou uma das influências para esse passo.
Catarina foi inspiradora: do hoje elementar, mas antes desprezado, hábito de lavar as mãos antes das refeições, ao uso de louças e talheres adornados; até mesmo na escolha do ambiente e das músicas adequadas ao ritual à mesa.

Novos e diferentes sabores

Catarina ao se casar com Henrique II pedia a seu Chef que mantesse os hábitos culinários e as receitas de sua terra que era Toscana. Apreciava os banquetes com gosto, desde os ensopados até os doces que, graças a ela e seus confeiteiros, passaram a ser preparados com açúcar na França – onde, até então, eram feitos apenas de mel. Algumas sobremesas que ganharam fama na cozinha francesa pelas mãos de uma nobre italiana são as seguintes:

– macarron: o biscoitinho de farinha de amêndoa nasceu ‘maccherone’ no século XVI. Levado para Paris por Catarina, mais tarde ganhou recheio e assumiu a forma irresistível da guloseima tal qual a conhecemos hoje.

– sorvete: o italiano Marco Polo trouxe a receita em uma de suas viagens à China, mas ela não teria saído da Itália até meados do século XVI, quando um dos cozinheiros de Catarina introduziu a sobremesa gelada na corte francesa.

– bolos decorados: no casamento de Catarina com Henrique II, um bolo criativo, feito em andares, impressionou os convidados. A partir daí, bolos incrementados assim passaram a ser sinônimo de status.

– profiterole: hoje muito popular na França, foi considerada uma iguaria real no século XVI. Reza a lenda que o docinho também fez parte do receituário dos cozinheiros de Catarina. Verdade ou não, nos valemos do benefício da dúvida para mostrar uma receita inspiradora. É para comer feito rainha (ou rei).

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